Os Céus dos Galileus


Há dois céus sobre nós — e talvez em nós.
Dois modos de olhar o infinito, dois caminhos para compreender a vida.
O céu do Galileu de Nazaré e o céu de Galileu Galilei.

O primeiro céu, do Galileu de Nazaré, é o do pescador.
Aquele que, ao olhar para cima, não busca respostas cósmicas, mas o sinal de que o tempo será bom para o trabalho, de que o vento soprou do lado certo.
O céu que decide o pão do dia, o rumo do barco e o humor da alma.
É o céu que sabe que é na interação com a natureza que se chega ao “dai-nos hoje o pão de cada dia”.

Quando Jesus fala: “Pai nosso que estás nos céus”, esse homem simples não pensa em astros ou galáxias.
Ele pensa em presença.
Pensa num Deus que sopra o vento certo, que acalma o mar, que reparte o peixe, que ilumina a madrugada fria com o sol de um novo começo.
O céu, para ele, não é um lugar distante — é o sopro que o sustenta.
É o espaço entre o medo e a fé, onde se lança a rede mesmo depois de noites vazias.
É o céu da confiança, da relação, do afeto com tudo o que vive.

O segundo é o céu de Galileu, o astrônomo.
É o céu das órbitas, dos cálculos, das leis invisíveis que movem os astros.
Um céu que se explica, se mede, se observa.
É o céu da curiosidade e da razão — aquele que pergunta como as coisas são, e não por que existem.
Um olhar que ilumina o universo ao desvendar os mistérios do espaço, mas pode deixar a alma às escuras.
É o céu que dá ao homem poder de controle, mas o distancia do mistério.
É o céu das respostas exatas, mas não das perguntas eternas.

Ambos os céus são verdadeiros, mas só o do Galileu de Nazaré concede significado.
Porque a razão pode compreender o pó das estrelas — mas só a fé é capaz de transcender o corpo que volta ao pó.
A ciência explica a luz; a fé sente a claridade.
A razão descobre o movimento dos planetas; a fé descobre o propósito da vida.

E talvez nosso grande desafio seja este:
reaprender a olhar o céu não apenas como quem o estuda, mas como quem o ouve.
Olhar o mundo não como quem quer dominá-lo, mas como quem deseja pertencer a ele.

O céu de Galileu Galilei nos explica como existir.
O céu do Galileu de Nazaré nos ensina a amar.
Um mede a distância entre os astros; o outro encurta a distância entre nós e Deus.

E quando fechamos os olhos e dizemos “Pai nosso que estás nos céus”, talvez o convite seja este:
não levantar os olhos para cima, mas abrir a janela da alma, destrancar a porta do coração.
Porque o céu de Deus não está longe — está em nós.
Ali, onde a razão se ajoelha... e a fé se levanta.

Eliel Batista

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