Este texto é do Bruno

Confessando que se conhece

Confesso: sou o culpado. Interessante como lemos aquilo que queremos. Sou culpado por ler diferente ou querer algo diferente. Sempre pensei (ou sempre pensamos) que o passo para tornar-se cristão era "Confessar os pecados". Confesso, peco em querer reler esse "passo". Não sei se fui ensinado ou se me ensinei a imaginar assim, mas quando pensava em confessar meus pecados, imaginava em relatar a Deus ou Jesus ou sei lá quem a lista de falhas cometidas desde o último confessionário. Fantasiava Deus esperando para ouvir palavra por palavra todos os erros cometidos, para daí então, graças ao que chamava de "Graça", esquecer de tudo o que tinha feito. Mas claro, antes eu teria de explicar e reconhecer os feitos.

Estava lendo essa semana a Primeira Epístola de João, e me deparei com o seguinte no capítulo 1:

"6 Se afirmarmos que temos comunhão com Ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. 7 Se, porém, andarmos na luz, como Ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, Seu Filho, nos purifica de todo pecado. 8 Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. 9 Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. 10 Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a Sua palavra não está em nós."

"Conhece-te a ti mesmo". Os gregos mandavam muito! Resumiram bem demais esse versículo. Como? O que uma coisa tem a ver com a outra? Este trecho não está falando de uma "causa e efeito", de uma obrigação, de uma prática religiosa e muito menos de uma ação literal. Prestemos atenção ao que me chamou atenção: a condição de estar na luz, caminhar com Deus, não é a ausência de pecado, como diz o versículo 8 ("Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós"). Precisamos confessar os nossos pecados, essa é a condição. Mas o confessar neste caso não é o catalogá-los a Deus ou caminhar com uma culpa angustiante, é na verdade, reconhecer.

Se afirmar que não tenho pecado é enganar-me, significa na verdade que ou sempre estou pecando (e nesse caso o gerundismo não é vício de linguagem e nem erro gramatical) ou sou pecador por natureza (tendo em vista que pecador por natureza não significa que sou geneticamente mal, mas simplesmente que não sou divino, não sou Deus). Logo, o confessar meus pecados é assumir esta minha condição de pecador, de humano, a condição de que peco. E esta condição (como esclareço em outro texto meu deste blog: "Pecar é Humano") não é ruim, má, errada. Apenas não é divina. Esta condição faz parte de nossa liberdade, de nossa vida independente, de nosso amadurecimento. Conheço-me a mim mesmo e compreendo que peco, sou pecador. Agora, começo minha caminhada sem culpa.

A verdade está em reconhecermos quem somos e caminharmos na luz. Agora, o caminho chamado "luz" é a comunhão uns com os outros do versículo 6. Por isso João apresenta essa relação. O que me ensinará a, sendo pecador e conhecedor de quem sou, tomar decisões que me comunguem com Ele, é a comunhão com os outros. Logo, o problema não é a consciencia de ser pecador ou a natureza de pecador, mas, se frente aos outros e sua comunhão eu não opto por manter esta comunhão, afasto-me da luz e caminho para as trevas, logo, não amadureço, não sou purificado deste pecado, não caminho para o amadurecimento.

E tudo isto para dizer: "Conhece-te a ti mesmo". Confesse-se. "Conhece-te a ti mesmo". Depois de confesso, descubra como caminhar na luz. A luz é a comunhão com os outros. A comunhão com os outros é o que nos purifica e nos comunga com o Pai, aquele que, diferente de nós, é livre mas sem pecado.

Comentários

  1. depois que compreendi tal pensamento aqui postado,me senti mais livre, sem pesos nas pernas, mais humano e mais dependente da Graça. Reconheço que sou pecador e pronto, me sinto mais perto de Jesus, aquele que andava e se relacionava com "pecadores".
    muito bom.
    um abraço.

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