HERÓI NO MOVIMENTO EVANGÉLICO PENTECOSTAL BRASILEIRO


(As bases para a intolerância, preconceito, sectarismo e outros valores do anticristo)

Jesus deixou um aviso de que o mundo seria perigoso, haveria risco de morte, perseguição e pouco espaço para uma fé defensora dos fracos e oprimidos. Entretanto, a estatização da fé inverteu o jogo e, de fracos e oprimidos, os crentes passaram a fortes e opressores.

Saltando o tempo desde Constantino, chegamos ao Brasil católico com imaturas tensões contra os protestantes. Herdeiros dos protestantes, evangélicos não sofreram estes embates, exceto na conflitante convivência entre protestantes e o movimento pentecostal.

Num país democrático como o nosso, com uma constituição que concede amplos direitos à expressão religiosa e de culto, o tema perseguição religiosa não tem força e nem espaço, exceto se colocarmos como disputa religiosa ou de mercado religioso: briga por poder, ou aumento de fiéis. Quem ficará com a maior fatia do poder?

O apocalipsismo americano, do fim do século XIX, trouxe de forma contundente a ideia de que a fé seria provada pelas perseguições, apresentando quase como uma necessidade o ser perseguido como prova de se estar certo e no caminho correto, criando assim uma síndrome de perseguição e implantando as bases para a suposta existência de uma teoria da conspiração. Junto com isto as premissas de santidade como ascese levaram o movimento a se opor a qualquer fator discordante de seus valores e ritos. Há a ideia de que a ação mais marcante do anticristo seria proibir o culto.

Houve um acintoso ataque de evangélicos contra o catolicismo romano e religiões afro. A princípio isto uniu o povo numa espécie de guerra santa, porém isto não sustenta mais a unidade do povo evangélico, pois este convive com boas pessoas destas outras expressões religiosas.
Enfim, apesar de haver exceções, nosso Brasil pacífico e pacificador acomodou as relações e em tese não existiriam perseguições religiosas, exceto pelos intentos descritos mais abaixo.

Sem se sentir vítima e sem um opressor poderoso, a unidade dos crentes esfacelou-se, os heróis ficaram sem causa e aquele inimigo que outrora fora apresentado como o teste da fé tornou-se amigo. A solução, ou resposta foi transferir para o "mundo espiritual".

Nesta ausência de uma guerra apocalíptica palpável, na década de 90, surgiu a teoria dos demônios territoriais. Era tudo o que se precisava para juntar o povo evangélico pentecostal.
Foi quando surgiu a Marcha Pra Jesus a fim de destituir esses demônios que supostamente controlavam as cidades, as riquezas e o governo.
Mas perdeu a graça.
Apesar de todas as marchas, nenhuma mudança significativa, até porque não dá para saber se os demônios se foram ou não. Os mesmos caciques dirigem o congresso nacional e os mesmos controladores das riquezas estão mais ricos.
Atualmente a Marcha para Jesus tenta sobreviver, o clima belicoso motivacional parece que fica por conta de concorrer com o inimigo da vez, a Parada Gay.

O que poderia unir o povo evangélico e quem os uniria?

A causa de Cristo é um processo muito lento como um fermento na massa de pão e, por natureza policêntrico, inviabiliza a existência de um herói único e responsável pelo seu avanço.
Quem neste ambiente desejar ser um herói e constituir-se como um "novo Moisés", unindo o povo e o liderando, conseguirá em função de uma guerra. Por isso, encontramos igrejas e pastores que se viabilizam guerreando contra seus pares ou contra outra religião. O mesmo princípio utilizado pelo Bush na guerra contra o Iraque e para nomear o eixo do mal.

Num ambiente assim há pelo menos seis características para o "ungido" ser aclamado: (expressão utilizada como reconhecimento de um enviado de Deus):

1- conhecer os problemas internos e usá-los como prova de que o movimento não é mais poderoso como deveria ou como teria sido um dia, como se este dia tivesse existido. Um clima de que a igreja corre o risco de fechar.

2- demonstrar que as falhas internas são causadoras do enfraquecimento da igreja e isto é culpa de quem não se compromete. Falta oração, santidade, consagração e atitude.

3- empoderar o povo com a lembrança de que a Igreja é de Deus e nada poderá deter os intentos dela.

4- apresentar como solução a unidade do povo em torno de suas propostas.

5- eleger para si uma missão que ele dá conta, mas demonstrar que é muito perigosa. Não é para qualquer um, mas somente para os agraciados por Deus como ele.

6- constantemente eleger um inimigo poderoso que ameace a missão.

Apossando-se da fala de Jesus, "sem mim nada podeis fazer", inflamam a proposta solucionadora com o "Deus pode, mas Ele está comigo", colocando Deus e o povo refém de seu dom.

É fácil observar como os líderes que mais se destacam no meio evangélico, invariavelmente, no discurso interno são pessimistas. Eles propõem que a Igreja está quase perdendo sua liberdade, enfraquecida perdendo o respeito e dignidade.
Se os fiéis, aqueles com quem Deus conta, não investirem neles a igreja corre o risco de fechar, morrer, e o Brasil cair nas mãos do inimigo (que é mutante).
Por outro lado no discurso externo são otimistas apresentando os evangélicos como "uma força a ser respeitada".
E para ambos, interno e externo, discursam que todos devem se dobrar aos evangélicos e seus desejos. Briga por território, não mais espiritual, mas sim, bem carnal.
Correm atrás do poder alavancado por um discurso belicoso, da teoria da conspiração, usando a performance de palco, com linguagem clichê do dialeto interno do movimento, a qual chamam de unção.

A meu ver o sectarismo, a perseguição religiosa, o clima fascista, a evangelização belicosa e a busca por obrigar o Brasil e os brasileiros a serem evangélicos é fruto da megalomania messiânica gestada pelo apocalipsismo americano do século XIX que insuflou no meio evangélico brasileiro um espírito estranho ao de Cristo. Quer ter seus pés lavados e não lavar os pés de ninguém.

Enquanto a evangelização partir do pressuposto pessimista de que o ser humano é lixo, uma escória de pecadores e que sua dignidade está em ser servido e não em servir, em ter poder e não em amar, haverá a contínua busca e espera de um messias que em seu próprio nome cumpra a promessa feita pelo demônio no deserto: "me adore e você terá poder, o mundo estará aos seus pés".

A igreja, sem se sentir digna, aceita a proposta de que servir aos intentos destes messias ou ungidos lhes conferirá dignidade e poder.
Assim sendo, sempre que surge alguém em seu próprio nome dizendo, "Cristo está aqui, ou ali", a este seguem cegamente e o elegem seu rei.

Eliel Batista

Comentários

  1. Muito esclarecedor, Pr. Eliel.
    À luz de reflexões assim não há como não me ver como um cristão pós-evangélico.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade!!!Parece pequeno e incabível a meu ver dizer que somos evangélicos.Ser cristão está bem longe de tudo isso que estamos vendo,Deus nos ajude.

      Excluir
  2. Que texto claro e direto. Os Cristãos devem analisar bem o que dizem a respeito do Evangelho, se não há distorções interesseiras e manipulações religiosas e até políticas. O poder acaba virando o foco de líderes mau intencionados, distorcendo toda mensagem amorosa e vivificadora de Cristo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Não passe por aqui sem deixar seu registro. Ele sempre é benvindo e importante.

Postagens mais visitadas deste blog

DESABAFO DE UM PASTOR BRASILEIRO CANSADO.

AS RAPOSAS TÊM COVIS...

A CONVERSÃO DA IGREJA - os efeitos do crescimento evangélico