Uma proposta para Igrejas.
Conhecer bem
as escrituras não é o maior desafio teológico do pregador, mas sim torná-la
acessível e aplicável.
De que
adianta um profundo conhecimento se a vida daqueles que ouvem as mensagens não
experimenta Deus?
Quando alguém
se volta para a igreja, deseja avidamente suprir suas carências, aliás, anelo
legítimo, válido e que deve ser buscado.
O problema surge no descompasso
entre a crença na possibilidade de se concretizar a idealização da vida e, de
fato, a realidade da vida tal qual se apresenta.
Todo discurso
tem seus limites.
Neste caso, o da divina providência em que Deus é apresentado
com uma resposta para tudo, mais cedo ou mais tarde, diante da realidade que se
impõe, além de não dar muito sentido, não corresponde aos anelos da alma e
instaura o incômodo vazio que gera a frustração.
Por outro
lado, um discurso que expõe a natureza própria da existência em meio a
aflições, por mais honesto, crítico e analítico que seja, não é suficiente para
tornar uma pessoa comprometida com a igreja em virtude da forte imposição de
suas carências afetivas, pois estas clamam por suprimento.
Devemos buscar uma maneira para equalizar a instituição e a vida para que a Igreja avance, cresça e se mantenha como um espaço e tempo de vida. Para melhor lidar com um desafio tão grande, não há explicação suficiente. Precisamos de metáforas.
Um dos
símbolos da Igreja é a união conjugal.
Casamentos são mantidos não por causa da
verdade, mas do pacto. Todos têm segredos individuais, verdades omitidas e ainda assim trabalham e a relação permanece..
O que leva
uma pessoa a permanecer em uma igreja não é a verdade, mas o que ela busca para
se conectar - seu pacto. Se a verdade fosse suficiente, algumas igrejas
abarrotadas de pessoas estariam vazias e outras vazias estariam cheias.
Por sua vez,
o pacto está diretamente ligado à percepção daquilo que a pessoa entende como
fator solucionador de sua carência. Aquilo que ela compreende como
concretizador de sua felicidade convoca-a a firmar uma aliança.
Talvez um bom
caminho para equacionar um pouco a tensão entre a “proposta de uma igreja” e a
“vida da igreja” seria o de, além dos conteúdos das mensagens, pensar sobre a
intenção e os objetivos das mesmas frente aos anelos pessoais dos ouvintes.
Uma igreja
não é o que ela propõe, mas aquilo que as pessoas vivem enquanto igreja.
Olhando para
as pessoas que frequentam as igrejas, percebi que há uma distância entre igreja
ideal e igreja idealizada.
Considero
Igreja Ideal aquela cuja conceituação corresponde a determinados parâmetros
comuns, a chamada “igreja boa”.
A igreja
idealizada, por outro lado, é aquela em que, o fiel considera-a ideal porque
para além de preencher determinados requisitos pessoais, a pessoa acredita
piamente que todos os seus anseios particulares serão supridos de alguma forma.
Neste
critério, entre a igreja ideal e a igreja idealizada existe a igreja real.
Pessoas sedentas em função de seus anelos e em busca de se conectarem.
O pastor que
não leva em conta os anseios particulares e considera que estas pessoas serão
tocadas apenas por falar a verdade, terá que lidar com a frustração de não ter
a inteireza das pessoas.
Por ser uma igreja ideal, os ouvidos estarão atentos,
porém o contrapé entre os anseios e a mensagem dificulta alcançar os corações
para que se comprometam com suas propostas.
A igreja deve
ser o espaço de cura, o lugar do milagre de Deus, e consequentemente da Palavra
como semente que possibilita a vida em meio ao caos.
Lugar de cura
diferente de um centro espiritualista que promete solucionar todos os problemas
com trabalhos, vigílias ou cirurgias espirituais. Nem como um seminário
apologético que possui a resposta certa para tudo. Muito menos a mediadora de
Deus e/ou manipuladora da graça.
No anseio de
suprir as carências e no engano de uma igreja idealizada, com esta expectativa,
as pessoas se tornam presas fáceis da religião que instrumentaliza a fé.
Exaustas das
lutas diárias, carentes de alívios em um mundo sofrido, querem transformar a
esperança do Reino - responsabilidade do fiel, em trabalho divino.
Por desejarem
uma intervenção divina aqui e agora, se iludem com uma mensagem que promete
para este mundo uma vida sem dor, e mais ainda, que promete consertar todas as
circunstâncias ruins.
Mas esta mensagem espasmódica, que conserta tudo, alegra
momentaneamente gerando uma falsa esperança, porque enquanto no mundo, sempre experimentaremos
aflições.
A esperança
cristã não se firma na concretização mágica dos sonhos, mas na convicção de uma
glória perene.
O grande
problema de uma mensagem que promete corrigir todos os defeitos, livrar de
todas as aflições ou proteger dos infortúnios é que leva o crente a negar a
vida como ela é.
E mais complicador ainda é que para ter o sentimento de
pertença ao grupo precisaria afirmar ser um grande abençoado, um querido de
Deus e desta forma, pressionado por esse sistema, o crente começa a negar suas
dores, seus sofrimentos e aflições coibindo assim a possibilidade de cura.
Por outro
lado, simplesmente pregar a verdade de que o mundo é assim mesmo, corre o
perigo de apresentar a verdade com tal dureza que rouba a esperança, e não
supre os anelos da alma.
Talvez, a
maneira de atenuar a questão seria a igreja se assumir como espaço de cura.
Porém, a
igreja só será um espaço de cura, quando cada pessoa perceber que ela não é
desfavorecida de Deus porque vive aflições, que ela não é a única que está com
a alma dilacerada.
Quando um puder ouvir as histórias de outros que o identifica com todos, com as
mesmas dificuldades da vida neste mundo, haverá libertação das algemas
ilusórias da religiosidade que nega a vida. Cada um perceberá que pode ser ele
mesmo com seus problemas, sem ser o “patinho feio” da família divina.
A pessoa
desfrutará da liberdade, de crescimento espiritual quando ao sair de sua
igreja, após aquele tempo maravilhoso de culto, estiver consciente e firme para
lidar com o mesmo mundo de quando ele entrou. Mas isto não é feito pelo
discurso apenas, mas pela mutualidade.
Penso que, a
igreja em seu modus operandis e, sua
mensagem deve priorizar as pessoas se abrirem para a vida.
Conceder espaço para
que na mutualidade tome-se ciência de que apesar de suas fragilidades,
limitações, e da volúpia do mundo injusto, cada um é amado por Deus.
Que todos se
sintam desafiados a continuarem lutando contra um mundo inseguro e de morte.
Eliel Batista
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