RESPOSTAS DE ORAÇÃO



O tema oração acaba se tornando recorrente em meus textos, talvez porque eu considere uma expressão do relacionamento com Deus?

Gostaria de pensar sobre a lógica religiosa evangélica da oração. Apenas isto.
Um crente ora e absolutamente nada acontece.
Quais as respostas encontradas no meio evangélico?

1- Deus sabe o melhor. Algumas pessoas, Deus não abençoa porque ela não sabe usar a benção, ou isto poderá ser para ela uma pedra de tropeço.

2- A pessoa não está preparada. Para ser abençoada a pessoa precisa ter condições de administrar a benção. Se ela for relapsa Deus não concederá a benção.

3- Vida torta. Uma pessoa com a vida toda bagunçada Deus não pode responder.

4- Falta de querer. A pessoa quer, mas quer de qualquer jeito, não como alguém que de fato deseja.

5- Falta de fé. A pessoa não crê de todo o coração, por isso não recebe, pois Deus não atende quem não tem fé e sem ela é impossível agradar a Deus.

6- Prova. Deus quer provar a pessoa e por isso não dá.

Mas por outro lado, existem algumas pessoas que pedem e acabam se dando mal.
Como então explicar?

1- Deus não queria dar, mas a pessoa teve fé, vida reta e insistiu, então, como uma espécie de atendimento à teimosia, Deus cedeu e assim, a pessoa deve arcar com as consequências.

2- Não foi Deus que deu, foi o diabo, porque ele é enganador e pegou a oração do crente e se apressou em responder para fazer um laço para a pessoa.

Mas e quanto àqueles que têm vida “torta”, pouca fé e é abençoado?

1- Estes servem ao diabo que lhe atende os desejos para mantê-lo preso no pecado. Como o diabo não pode fazer sozinho, Deus é quem permitiu porque assim pode pegar o indivíduo no seu pecado.

2- Tem vida torta, pouca fé, mas é dizimista e como Deus é fiel, tem que abençoa-lo.

Existem mais respostas, mas aqui estão as mais comuns. Nem quero sugerir que se pense em como seria Deus dentro desta lógica: manipulável, sem vontade, pouco bom para não dizer mal?
Pergunto-me se esta descarada contradição não é sustentada pela conveniência: Tudo para justificar uma posição de que vale a pena crer.
Para que Deus, de fato, assuma este papel, ele precisa ser infiel, incoerente e caprichoso.

Talvez alguém esteja pensando: Se as respostas são incoerentes e contraditórias, elas apesar de se colocarem como explicações, não servem como uma explicação. Então surge a pergunta: Porque às vezes dá certo e outras não. Para algumas sim e para outras não?

A resposta para a pergunta só é possível se houver uma mudança de concepção.
A relação de Deus conosco deve ser diferente daquilo que se entende. As orações devem pertencer a outra categoria, diferente da usual.

Uma resposta coerente, só é possível através do abandono da lógica aplicada na oração: “funcionar” ou dar certo no sentido de conseguir que Deus realize nossos desejos.

Vejamos algumas concepções que precisam de avaliação:

1- Oração que conserte o passado.
A oração não deve ser um instrumento para que Deus conserte o que se passou. Imagina que Deus de alguma maneira poderosa, intervenha arrumando os fatos que causaram dor. O passado é irretocável. Deus não vai de maneira alguma fazer com que um evento seja apagado, mudado ou destruído da história. Aconteceu; é fato.

2- Oração que conserte o futuro.
Da mesma forma, a oração não serve para Deus consertar o que ainda não aconteceu, ou ainda, ajeitar o futuro para que se tenha melhor sorte do que hoje. Como se fosse uma compensação ou remendo das coisas ruins que aconteceram. O futuro é inalcançável.

Dentro disto, resta-nos uma oração que contemple o presente.
Vale lembrar que o presente é vivenciado numa estreita relação com o passado. Quem esteja experimentando uma dor hoje, saboreia o fruto do passado. Se o passado não será consertado, resta então reconhecer que o único presente que existe é exatamente este: que experimenta a dor.

Dito isto, devemos reconhecer que a oração ajuda a participarmos da ação de Deus que agindo em todas as coisas, faz com que cada evento, situação e experiência sejam matéria-prima para a construção de outro futuro, que antes do sofrimento não se havia pensado.
Exemplo:
Uma mulher traída e abandonada pelo seu marido. Esta mácula não pode ser mudada.
Apesar do sofrimento, trata-se do fruto do acontecido. Ela havia planejado sua vida a dois, junto de seu marido, mas agora ele não mais está. A oração não consertará o ocorrido, mas poderá alinhar seus pensamentos ao projeto de Deus que agirá nisto transformando em matéria-prima, para que o futuro não esteja eternamente prejudicado, inválido e impossível de ser vivido. Agora, ela deverá aprender a como construir outro futuro, não imaginado nem querido: sem o seu marido. A oração ajuda a beber o cálice e alinhar-se com a vontade de Deus que é boa e agradável, neste caso, a vontade de Deus é que ela se restabeleça, crie outras formas de conduzir sua vida e faça de seu futuro uma bela história.

Mudando a compreensão sobre oração, as perguntas propostas anteriormente não cabem, pois a questão não se resume em saber por que alguns conseguiram e outros não e, aleatoriamente se deram bem ou mal.
Se sabemos que Deus não é o mecânico do mundo, mas sim, que Ele se concentra em outro fator que é o de agir no presente para nos transformar e assim vivermos, nos colocaremos à sua disposição e não exigiremos que Ele esteja à nossa disposição e nem procuraremos justificar os acontecimentos mundanos como fruto de orações.
Deus transforma, não conserta.

Eliel Batista

Comentários

  1. OLá Eliel,

    Sou grato por suas contribuições dentro e fora das sala aula - no cotidiano - na vida da gente. Impossivel esquecer de seus diálogos libertadores e dos discipulados nascidos da amizade e impulsionados por suas inquietações. Vc é o tipo de mestre que sempre retorna ao seio da comunidade de irmãos e irmãs (sorte de toda essa gente aí, sorte a nossa aqui tb). Inda me lembro dos tons de suas risadas soberbas, de seus constantes esforços para enfrentar a vida com graça e reflexão, o que, diga-se de passagem, não é nada fácil, eu sei, ou melhor, imagino.. heheh
    Como não ser respeitosamente temente ante seu modo de pensar, vi-ver e agir?
    Obrigado por vc existir, pelos tantos jantares, almoços, cafés da manhã (comunhão), fertilização de idéias, do-ações, conselhos, por sua pa-ciência larga e delicadza comigo e minha família, sempre, mil vezes obrigado!

    Obrigado por mais essa contribuição: seu Livro, que já estamos tratando de degustar à "luz de velas" e com muita emoção envol-vida. Prometo que irei conhecê-lo (o livro), de admira-lo, de guarda-lo, de abrir-me para as idéias contidas nele e entregar-me às mais profundas impressões que emanarem de cada página sor-vida.

    Abraço fraterno e boa sorte em seus projetos,

    Miguel

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  2. Partículas da Graça? Muuuitas partículas então.. Blog super abençoado! Que Deus continue a te usar sempre! Estou te seguindo! Abraços!

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