Meu desencanto com a fé cristã!
Tenho uma vocação que brotou com força na minha
adolescência.
Ela não me deixa sossegar. Há uma força dentro de mim que não me
deixa dizer não.
Não almejei, em primeiro lugar, ser pastor. Desejava, apenas,
fazer com que as pessoas pudessem ser melhores pessoas.
Que aqueles que sofrem
pudessem encontrar no mínimo o consolo e crendo que isso ocorre por meio do
Evangelho de Jesus.
Confesso que tenho um desencanto com a fé cristã, no
entanto, o problema não está na vocação e certamente não está no Evangelho.
Descobri que está no fato de ter me iludido, acreditando naqueles
que engolidos pelo sistema religioso demoníaco, me passaram a ideia de que todo o
paramento eclesiástico existente é a base para se ter um cristão.
Inocente entrei na lida.
Crédulo, acreditei que os mais “experientes
líderes eclesiásticos” estariam certos, por isso, por um tempo acabei ajudando a perpetuar as estruturas nefastas do poder eclesiástico me submetendo a
elas. Foi quando me descobri, mais abusado do que amado, mais útil do que
importante.
Aclamado como “santo homem de Deus” quando subserviente aos
requintes de manipulação. Demonizado quando desejoso em ver os filhos de Deus
vivendo a liberdade com a qual Cristo libertou.
Encontrei pastores vendendo ovelhas para políticos.
Vendendo
templo como se fosse ponto comercial.
Ganhando salários polpudos enquanto os
fiéis gratuitamente faziam o trabalho que era deles.
Pastores cercados por
leões de chácara, arrogantes, inacessíveis, insensíveis pela dor alheia.
Envolvidos com prostituição, espancadores de esposa.
Transformadores da “casa de oração para todos os povos” em “esconderijo
de ladrões”. Por serem mercenários sentem-se protegidos dentro dos templos construídos
em sua própria honra, sob o falso manto da unção divina.
Escondem-se também atrás de um cansaço, cuja prova está
apenas no passado, na época em que fizeram alguma coisa até alcançarem o que
sua cobiça tanto almejava. Hoje apenas sentam-se em suas cadeiras imperiais
acumulando gordura, pois não gastam nenhuma energia com o pastoreio.
Conheci mulheres de tais pastores reprimidas e oprimidas
canalizando o ódio reprimido contra os fiéis, principalmente contra as mulheres
as quais deveria se identificar, mas acabavam por se tornarem abusadoras das
fiéis colocando-as sob subserviência. Parecem vingarem para que nenhuma delas desfrute
da Paz de Cristo.
Presenciei famílias donas de igreja, mandando e desmandando em
nome de uma teocracia, completamente insana.
Me deparei um povo sofrido, batalhador, crendo na pureza e
beleza do Evangelho sendo usado como massa de manobra para projetos
megalomaníacos, para projetos pessoais financeiros.
Verdadeiros cambistas da fé que me enojam, causam revolta.
Não promovem cultos como um encontro de família: o Pai Celestial e seus filhos.
Promovem eventos que visam mobilizar uma massa para satisfazerem seus próprios
instintos animalescos.
Entre esses, há aqueles pastores que desistiram.
Não
deixaram de ser pastores, mas de pastorear.
Hoje eles culpam as ovelhas por
todos os seus infortúnios, tristezas e dissabores e sua única relação com as ovelhas
é para tosquia, pois são indiferentes à vida do povo.
Morrerão se lamentando às
escondidas, pois certamente, bem lá no fundo da alma, sabem que não são os “heróis
de Deus”, pelo menos não para Deus, apesar de toda a aclamação popular mediante
a massificação midiática. Trabalharam para terem “um nome sobre toda a terra e
uma torre que tocasse os céus”, porém perderam-se na profundidade do inferno
existencial.
Depois de tudo isso, e mais, repensei minha fé, minha
vocação e minha religião.
Sou cristão, tenho uma vocação não dada por homem algum,
creio no Evangelho e por ele me dedicarei mais.
Não permitirei que os lobos
vestidos de cordeiros, os mercenários, os demônios travestidos de anjos de luz
determinem a minha fé, meus valores, como traçarei meu caminho vocacional e
como viverei.
Esforço-me vigilante para que somente Cristo e o seu
Evangelho tenha em minha vida esse poder, força e direito. Porque tudo aquilo
que tenho de Cristo, aquilo que com ele vivi e vivo, deixou evidente que esse
mundo religioso demoníaco não tem absolutamente nada a ver com o Reino de Deus.
Por isso sou e serei contra toda e qualquer estrutura, em
nome de Deus ou de si mesma, que se coloque acima do humano, que não reconheça
a dignidade humana em todos. Que não dê voz aos calados, que não coloque em
movimento os imobilizados, que não acolha os excluídos, que não respeite as pessoas
em suas realidades, que não as ajudem a transformarem sua existência para
melhor. Não posso admitir qualquer estrutura, muito menos uma que se diga
cristã, que coloque o humano como um escravo que tem que sublimar seu
intelecto, tolher sua liberdade, desrespeitar seus limites e sonhos em nome de
alimentar a estrutura eclesiástica.
É importantíssimo que igreja não seja prateleira de serviços
divinos, despachante político, agência de entretenimento para juntar multidão
ou um supermercado da fé que vende ilusão.
Me oponho a que pastor, enquanto pastor, seja coach ou confundido
com um empresário.
À pregação ser palestra de empreendedorismo ou propaganda
promocional de produtos celestiais, tais como, livramentos, proteção e solução
rápida de todos os problemas.
A culto ser show para arrecadar dinheiro e mais
ainda ao uso milagres para saquear os inocentes e encher contas bancárias.
Eu tenho um sonho. Simples, nada fácil, mas imprescindível, que
a igreja seja profética, a pregação seja o Evangelho e o pastor seja pastor.
Será que é muito?
Como é bom ler algo que serve de consolo à nossa alma! Me serviu de consolo porque tendo vivido o que vivi e,lendo a realidade como a leio hoje, às vezes me sinto sozinha , marginal na comunidade de fé que integro. Nasci em berço evangélico e, ingênua , ingressei muito cedo nos serviços eclesiásticos. Não posso.negar que tive experiências com Deus, mas hoje reconheço que a concepção que fazia Dele por vezes era equivocada e pouco generosa. Tendo sido obreira por dez anos de uma instituição religiosa aprendi "na marra" o que é se perceber mais "abusado do que amado, mais útil do que importante". Quando minha alma adoeceu , e isso pra mim foi um grande choque ( sintomas da depressão e de transtorno de ansiedade não são muito bem compreendidos entre os fundamentalistas que , por vezes tratam tais problemas como exclusivamente vinculados a entidades malignas ou oriundos de uma desocupação crônica,) , me vi à beira do ceticismo, me vi perdendo a essência da fé , pedi por socorro e , dispensando toda e qualquer autocomiseração , não fui acolhida. Descobri que era funcionária e que aquelas pessoas a quem tanto amava não estavam dispostas a me compreender porque a lógica regente da instituição previa o pleno exercício da fé como cumprimento de escalas , as quais já não conseguia cumprir sem , por vezes, me violar ... A lógica do lugar ao qual chamava de segunda casa quase me matou ! Lutando contra mágoas, desesperança , frustração , medo conheci mais a fundo a igreja Betesda ( pelo YouTube).A honestidade com que pregam a palavra do Deus que tanto amo tem me ajudado muito nesse processo de cura. Serei sempre muito grata a Deus pela oportunidade de conhecer pessoas que, ainda que de longe, parecem entender exatamente pelo que estou passando. Muito lindo o texto, pastor ! Eu tenho o mesmo sonho !
ResponderExcluirObrigado pela confiança em registrar sua longa e dolorida jornada. Espero de coração que encontre o refrigério do Espírito de Cristo. Paz
ExcluirExcelente texto pastor Eliel!
ResponderExcluirReflete o sentimento de muitos cristãos que choram e se entristecem com o Deus “fast food” jogado por “pseudos homens de Deus” Seu sonho simples é belo e alinhado com o que os verdadeiros homens de Deus devem fazer!
Gde abco